O dilema entre humildade e confiança na liderança

*Por Lana Wigand, fundadora e Diretora de Marketing da Runb e especialista em marketing e comunicação

A relação entre confiança e humildade na alta liderança vai além de um simples comportamento. Trata-se de um equilíbrio delicado, cuja ausência pode comprometer a construção de times e empresas de alta eficiência. Encontrar esse ponto ideal é fundamental para que a confiança não transpareça como arrogância, nem a humildade seja interpretada como insegurança.

Esse desafio não afeta apenas uma parcela específica de líderes, mas está presente na trajetória de muitos profissionais, independentemente do gênero. Ele reflete um equívoco comum sobre os significados de confiança e humildade. Em um mundo corporativo altamente exigente, confiança costuma ser associada a poder, autoridade e ousadia, enquanto humildade pode ser vista como submissão e insegurança. No entanto, esses conceitos vão muito além dessas interpretações superficiais.

A humildade não está ligada à incompetência, mas ao autoconhecimento. Ela mantém o líder ancorado na realidade, permitindo reconhecer limitações e criando espaço para aprendizado e crescimento. Como disse C.S. Lewis: “Não é pensar menos de si mesmo, é pensar menos em si mesmo.” O equilíbrio ideal se encontra na “humildade confiante”, conceito defendido pelo psicólogo Adam Grant. Esta abordagem combina a confiança nas próprias habilidades com a disposição para questioná-las, mais do que um conceito teórico, trata-se de uma estratégia essencial para qualquer grande líder confiar no próprio julgamento sem receio de desafiar as próprias ideias é um dos segredos para uma liderança eficaz.

Líderes bem-sucedidos demonstram como essa combinação pode ser uma vantagem estratégica. Por exemplo, Whitney Wolfe Herd, fundadora do Bumble, equilibrou confiança em sua visão com a humildade de questionar modelos tradicionais para criar soluções inovadoras, Robert Iger, ex-CEO da Disney, revelou em seu livro “The Ride of a Lifetime” que sua experiência limitada no setor de entretenimento não foi um obstáculo, mas uma oportunidade de aprender e liderar com convicção, Katharine Graham, ex-presidente do The Washington Post, e Lou Gerstner, ex-CEO da IBM, também utilizaram essa abordagem para superar desafios e alcançar o sucesso.

A raridade desse equilíbrio pode ser explicada pela relação entre confiança e competência, muitos líderes caem na armadilha do excesso de confiança sem a devida competência, enquanto outros, mesmo altamente qualificados, enfrentam dificuldades devido à falta de autoconfiança. Quando bem direcionada, a dúvida pode ser um motor poderoso para o crescimento. O problema surge quando não há um meio-termo entre a valorização das próprias habilidades e a disposição para aprender e se adaptar.

No ambiente corporativo, mais do que autoconfiança, espera-se a capacidade de ouvir, aprender e se ajustar a diferentes cenários. Para um líder, isso significa: admitir o que não sabe e buscar conhecimento, pedir feedback, ouvir antes de opinar, assumir responsabilidades pelos erros e compartilhar o crédito com a equipe. Além disso, demonstrar vulnerabilidade sem perder firmeza e tomar decisões com base em informações sólidas, estando aberto a revisões, são atitudes essenciais para uma liderança equilibrada.

Confiança e humildade não se opõem, mas se complementam. Quando bem dosadas, tornam um líder mais eficaz, capaz de tomar decisões acertadas e inspirar sua equipe a crescer. Dessa forma, a humildade confiante não está em ter todas as respostas, mas em ter a sabedoria de fazer as perguntas certas. O verdadeiro líder se destaca não por acreditar que sabe tudo, mas por reconhecer que sempre há algo a aprender. Como enfatiza Jennifer Garvey Berger: “Em um mundo complexo, é preciso um compartilhamento coletivo de poder, criatividade e perspectivas para se tornar ágil e liderar em direção ao futuro incerto.”

 

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Foto: Freepik

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